Mediascapes


Potsdamer Platz, Berlin


A luz sempre foi um elemento determinante na definição da arquitetura. De Vitrúvio a Jean Nouvel, passando por Le Corbusier "o jogo correto de volumes sob a luz”, muitos foram os teóricos que colocaram o elemento como constitutivo dos espaços planejados e construídos, assim como a melhor arquitetura realizada através dos tempos também soube se utilizar. Veja os exemplos das catedrais góticas e seus vitrais; o Pantheon, em Roma; as galerias parisienses; toda a arquitetura moderna de ferro e vidro e, mesmo, o exemplo mais radical; da Catedral de Luz feita pelo arquiteto de Hitler, Albert Speer, apenas com refletores de guerra.


A questão da interação entre luz artificial e arquitetura é, no entanto, muito recente. Data de 1882 o primeiro fornecimento regular de energia elétrica pública. Pouco mais de 100 anos. Chega com a era moderna uma caminhada em direção à transparência.

Blade Runner, 1982De um dia solar passamos a um dia elétrico, com as atividades humanas ganhando algumas horas. Com o advento da informática, temos um dia eletrônico. Um tempo global que estabelece o 'agora' em escala planetária. A arquitetura, que desde a invenção da prensa de Gutemberg tem se esvaído das suas obrigações de ser um registro do tempo e do espaço, tem aos poucos incorporado ao seu repertório aparatos tecnológicos de comunicação que potencializam essa fuga de ‘lugar da memória’. E são as grandes telas eletrônicas de alta definição em Liquid Crystal Display (LCD), as maiores responsáveis por começar a tornar corriqueiro nas grandes cidades a paisagem urbana de filmes de ficção científica como Blade Runner (1982).

Também novos materiais de construção, englobados na definição de ‘transmaterials’, que permitem transparência e transmissão de dados digitais através deles, concorrem para a potencialização da antiga simbiose entre arquitetura e comunicação visual, bem como para o estabelecimento de novas estéticas baseadas nas rápidas mudanças de imagens, onde a luz é fundamental. Persistentes apenas na duração retiniana. Aparição/desaparição que vai além da utilização das estruturas de edifícios como suportes de grandes anúncios. São novos concretos e cerâmicas transparentes; plásticos flexíveis que transmitem informação; fibras óticas etc.

Projeto de Jean Nouvel em CopenhagenNão se trata, como escreveu Venturi, da utilização de elementos de uma ‘arquitetura vernacular comercial’, mas a comunicação que engloba, além da publicidade mais popular, a própria arte urbana, além de permitir interatividade, como mudar as cores de um prédio a partir de um telefone celular e a supressão do tempo e espaço com prédios que podem abrir uma janela eletrônica para qualquer lugar do mundo em tempo real. Arquitetura não só como face, mas como interface. Interfachadas.

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